Palavras para um caminhante só

Agarro-me tão fortemente as palavras, como uma criança se segura junto a mãe.
Entrelaço-me nelas para que não me soltem, para que não me deixem escapar.
Tenho medo de perder-me neste mundo onde não me encontro, onde meus pés me levam a vagar.
 
As palavras são minha arma e escudo. São meu alimento.
E alento.
Eu não danço.
Não canto.
De mim não nascem os sons que encantam.
 
Eu só carrego em mim, as palavras.
 
Mas com elas te ponho a sorrir, um sorriso ainda maior que o meu.
Dos teus olhos colho a lágrima que me faltava
pra regar a semente que plantei em teu coração.
E as palavras, as mesmas palavras que um dia te dei em forma de escritos
retornam hoje a mim, em forma de espelho.
 
Diante delas me despi, pois eram só o reflexo de quem eu sempre fui.

A cerca da distância

No ar pesado
Na neblina e no frio
É que faço morada das minhas lembranças.
E creio que por culpa desse amar sem cessar
Tenho enfraquecido.
A ponto de desejar que meu fim seja
Em tuas lânguidas mãos.

Como um punhado de areia que não podes segurar

Como uma promessa de amor que não podes manter

Como os teus olhos sobre o meu fenecer.



Que a tua vida

Que a tua vida queira mais da minha
E como numa teia, venhas a enlear-se.
Que o caminho do teu retorno se esqueça
E toda a fuga, seja apenas um disfarce.
Caiam as sedas uma a uma
deixando uma trilha pelo chão.
Caiam tuas máscaras uma a uma
sendo tu, só minha imensidão.

"Que eu sempre me perca nestes caminhos...

Tentando te encontrar
Nestas noites, abra meus olhos com teus lábios
E aceita meu pedido.
Fixar teu ser no meu."


Explosões

Eu nunca soube ao certo o que eu "queria ser quando crescer".
Isso era um problema que me assolava, porque até os seis anos eu sempre dizia que seria astronauta, veterinária, médica, professora e caixa de supermercado (acreditava que poderia ser tudo isso ao mesmo tempo... Ah, a infância!).

Os anos se passaram e eu continuei com a tal dúvida "o que eu queria ser"?
Depois de muitos tiros no escuro, conclui que não poderia fugir do inevitável: acordar dia após dia rodeada por tantos livros e fazendo do café o combustível que me leva através das noites insones, não poderia ser apenas obra do acaso.

Havia algo de "escritor" em mim.
Algo de amar palavras e brincar com elas, algo de tomá-las por remédio e consolo.

E escrevi.

Textos alguns, que se fizeram cama para que eu pudesse deitar meu cansaço. Nestes dias eu me encontrei.
Não almejo ser uma grande escritora, não me vejo sendo nenhuma das grandes mulheres que são donas de livros e escritos incríveis os quais venho lendo desde que me entendo por gente.
Só quero escrever sobre o que não cabe em mim, sobre o aglomerado de palavras que explode cada vez que me pego com o papel por perto, e de repente a mão coça.

E depois vem o alívio. Nunca penso muito sobre o que escrever, na verdade, comigo tudo explode. E logo vejo os fragmentos em forma de verso, texto e poesia.

Creio que se muito pensasse, não escreveria.
Minha coragem se dá assim, como quando eu tinha 9 anos e as aventuras na casa de minha vó eram infinitas, exatamente como os dias de Sol num verão que parece nunca acabar.